‘Não julgue um livro pela capa’ é um dos ditados mais clássicos e foi exatamente por fazer o contrário que eu resolvi ler o livro ‘Precisamos falar sobre Kevin’ de Lionel Shriver. Há tempos eu via comentários sobre o livro e a capa sempre chamou muito a minha atenção, por ter um toque sombrio e misterioso:
Após terminar um livro e não saber se continuava a saga ou intercalava com outro autor, pensei “estou com o livro ‘Precisamos falar sobre Kevin’, vamos ver do que se trata”. Eu nem sabia do que se tratava, mas como a capa sempre me chamou a atenção, resolvi dar uma chance e em três dias devorei as mais de 400 páginas.
O livro ‘Precisamos falar sobre Kevin’ é uma história ficcional, sobre o ponto de vista materno em um caso de massacre em escola americana – ou, como bem coloca a autora em vários pontos, o caso de garotos Columbines. No livro é retratada toda a vida de Kevin Katchadourian, um garoto que em uma quinta-feira, resolve acabar com várias vidas. Então, o que torna o livro diferente é analisar o ponto de vista da mãe do assassino e não da mãe da vítima.
A história é muito profunda e analisa a vida de Kevin desde o seu nascimento, detalhando traços de sua personalidade em detalhes, assim como sobre a sua criação. É impossível não achar o livro intenso e tocante, pois a história toda é contada em cartas que Eva Katchadourian, mãe de Kevin, escreve para o marido Franklin, com reflexões e análises de cada detalhe, então você se sente um observador de uma cena e sente as emoções descritas por Eva.
O livro nos faz pensar muito e, para quem pensa em ter um filho, pode ser intenso até demais, como eu já li algumas pessoas comentarem.
Por conta da história profunda, fizeram um filme baseado no livro e claro, terminei de ler e no mesmo dia assisti o filme para poder dar a minha opinião sobre a fidelidade e forma de retratar a história: e que decepção.
O filme é no estilo minimalista, com poucas falas e um apego em detalhes que em outros filmes, seriam deixados para lá. Como eu havia lido o livro, o filme foi bem claro, mas para quem não leu, o filme foi muito vago e até mesmo vazio. Não houve uma profundidade sobre a mãe, não houve um detalhamento da vida de Kevin com o pai (verdadeiro causador de sua personalidade), então tudo ficou vazio e nitidamente culpando a mãe por tudo, quando não é o caso no livro!
A escolha dos personagens foi muito boa, com exceção de um: o pai. Franklin era descrito como um homem muito bonito, tipicamente americano, loiro e de olhos azuis e o ator que escolheram não se encaixa na descrição. Já Kevin e Eva foram escolhas perfeitas e são como os personagens descritos no livro.
A falta de contexto de algumas cenas incomoda, pois colocadas de uma forma aleatória, faz com que o espectador tenha uma opinião errada, já que a cena num contexto correto se torna totalmente diferente e a opinião muda completamente – basicamente fazem da mãe um monstro no filme, sendo que no livro você avalia o todo e cada sentimento.
Recomendo demais o livro e se você leu, me conte o que achou – e sobre o filme também!
- Autora: Lionel Shriver
- Páginas: 464
- Gênero: Drama
Spoiler alert:
Deixei para o final da postagem algumas passagens do filme que me incomodaram, pois assim só lê quem quer – ou quem já viu o filme e leu o livro:
– Choro de Kevin: Kevin é retratado no livro como um bebê que chora muito e isso é mostrado com maestria no filme, mas a cena em que Eva para ao lado de uma britadeira com o carrinho de bebê – com o objetivo de mascarar o choro -foi muito desnecessária, já que não aconteceu isso em momento algum no livro. Eu achei uma forma de descaracterizar a personagem e formar uma opinião do espectador desde aquele momento: de que Eva é um monstro.
– Relação de Kevin com o pai: é retratada de forma correta a relação falsa de Kevin com o pai, mas faltou profundidade na relação. Franklin não tem foco algum no filme, sendo que no livro é nítido o quanto ele também foi responsável pela construção da personalidade do filho;
– Eva como profissional: o que foi a vida profissional de Eva no filme? Simplesmente a colocaram como uma maluca que viajava sem propósito e que escrevia um livro como ‘aventureira’. Deveriam te-la retratado como uma mulher de negócios, que viajava o mundo todo e que era dona de uma empresa de sucesso. Faltou mostrar que Eva largou a empresa para cuidar de Kevin nos primeiros anos de vida, etc.
– Nascimento de Celia: por que não mostraram o motivo dela ter tido Célia? Faltou mostrar a relação com a filha, faltou mostrar a diferença de personalidade entre os filhos. Tudo ficou muito superficial.
– Cena final: a cena final arranca lágrimas, mas quem leu o livro sabe que o diálogo dela com Kevin foi muito mais profundo e tocante – sem contar do presente que o filho dá para ela.
Enfim, é vital ler o livro, pois o filme deixa muito a desejar – mesmo que a atuação de Tilda seja incrível, como de costume.
15 Comments
Karen
03/06/2014 at 15:05Oi Tatiana, Tbm fiquei decepcionada com o filme. Li o livro em PDF no computador e mesmo assim o devorei em menos de uma semana. Rolou uma identificação forte com a personagem pq já teve um tempo em que eu não queria ter filhos e meu marido sim, por conta disso falei muuuito desse livro com ele. Ele não gosta de ler então quando saiu o filme o carreguei para assistir e foi total decepção. Ele ficou exatamente com essa impressão, de uma historia mal contada e vazia. Achei a escalação dos dois maravilhosa, o Kevin chega a dar medo. Mas parece que a historia foi só uma pincelada do que foi o livro. Me senti assistindo um trailer.
Tatiana Michels
04/06/2014 at 00:11Oi Karen!
Depois de ler o livro o filme decepciona demais né?
Eu me identifiquei com a personagem também, pois eu sou uma pessoa que nunca quis ter filho, então me vi ali em uma situação de pressão sabe? Graças a deus o meu marido tem a mesma vontade de não ter filhos que eu e isso me salva, pois eu definitivamente nunca tive vontade de ter filho e isso desde pequena. Sabe a criança que não brinca de boneca e que não finge ter bebê? HAHAHA Era eu. Sempre fui assim e me sentiria uma Eva tendo um filho.
Ficou muito vazia a história né? Me decepcionei demais. AMEI as atuações – dois dois principais, claro -, mas poderiam ter retratado de forma correta. Acho que daria um bom seriado viu?
Super beijo!
Lívia Alli
03/06/2014 at 15:31o filme é incrível! um tapa na cara, haha… fiquei com mt vontade de ler o livro… nao só esse mas alguns outros tbm da Lionel Shiver
http://www.tofucolorido.blogspot.com
insta: liviaalli
Tatiana Michels
04/06/2014 at 00:06Oi Lívia!
Leia o livro, pois ele é fantástico!
Super beijo!
Carlinha Salgueiro
03/06/2014 at 21:12Tati, vi o filme apenas e me senti meio burra. Depois duas pessoas me recomendaram os livros pelos comentários no Facebook.
Lendo sua resenha entendi porque fizeram isto! Com certeza ele vai para minha lista de leituras!
Beijos!
PS – com * SPOILER PRA QUEM NÃO VIU O FILME*: não li o livre, acabei de falar, mas não entendi a cena da britadeira tratando a mãe como monstro, quem já criou uma criança que chora, no caso eu ajudei minha mãe com minha irmã e também já fui babá, sabe que as vezes naquele desespero de se sentir incapaz de fazer uma criança parar com os resmungos, qualquer outro barulho soa como alívio necessessário! Não que eu tivesse feito isto, rs, mas do meu ponto de vista, foi super compreensível e não monstruoso.
Tatiana Michels
03/06/2014 at 23:59Oi Carlinha!
Olha, eu imagino a sensação, pois conforme o filme ia progredindo, eu pensava no quanto eu não entenderia nada do que eles tentavam passar. A impressão que eu tinha é que pressupunham que todo mundo leu o livro e ponto final, pois não é possível, muitas coisas ficaram subentendidas e isso não é legal.
Hahaha eu super te entendo. Sabe por que eu pensei em passarem ela como monstro? Porque há um puritanismo tão grande com tudo – é parto isso, ou parto aquilo, é certo e errado pra todo lado -, que eu tenho certeza que tem gente dessa vibe que viu a pobre coitada como uma sem sentimentos e não como uma pessoa que estava cansada ao extremo. Sério, quando puder leia o livro sim, pois você sentirá muita pena do que a Eva passou, pois eu que também já tive contato com criança fiquei com muita dó dela. No mais o livro é fantástico, então será uma leitura muito produtiva, tenho certeza ♥
Suuuper beijo!
Thaís
04/06/2014 at 09:49Oi, sempre leio o blog mas nunca comento, mas eu gosto tanto desse livro que resolvi comentar.
Acho o livro fantástico, já li todos os traduzidos da autora, gosto de todos, mas nenhum se compara a esse. Desde a riqueza de detalhes emocionais até o final, pra mim o livro é quase perfeito. Já li quatro vezes e sempre encontro algo que ainda não tinha reparado.
Essa questão de ver a mãe como monstro acaba sendo meio relativa, porque algumas pessoas acham isso mesmo lendo o livro. Isso é uma coisa que eu acho muito legal no texto, ler sobre uma mãe que não tem o comportamento padrão de se apaixonar imediatamente pelo filho e de passar a agir como se soubesse o que está fazendo. Eu tenho muitas dúvidas sobre querer ou não ter filhos e achei muito bom poder ler alguém falar sobre isso de uma forma tão direta. Eu achei a cena da britadeira ótima, acho que ela poderia perfeitamente estar no livro, faria todo sentido.
Eu fui ver o filme com muita curiosidade, mas sem muitas expectativas porque sei que, em geral, os filmes são mais rasos e no caso de uma história tão intensa sabia que ia ser muito difícil de chegar perto.
Não amei o filme, mas não odiei. Achei raso, vago, corrido. Achei que na maioria das vezes focaram em cenas que dariam algum tipo de apelo visual e não na coisa dos sentimentos, mas são coisas diferentes, acho que não dá pra ser tão exigente.
Já vi o filme faz tempo então não me lembro tão bem de como foram tratadas certas coisas, mas lembro que me incomodou a coisa do Kevin ter saído do ginásio meio como um superstar porque uma das coisas que mais gostei no livro foi quando ela explicou como ele fez tudo calculado de forma a que não significasse nada. Isso também passa longe no filme, pareceu apenas que ele quis matar todo mundo porque outros fizeram isso antes.
Na verdade é isso, eu procuro não comparar tanto filme e livro porque acho que são formas de expressão muito diferentes e, em alguns casos, é muito difícil resumir a história em algumas cenas que caibam em duas horas.
Também achei a escolha do pai ruim, mesmo o ator sendo bom, ele tá mais pra padrão americano estilo desenho animado (Simpsons, Family Guy) do que pra pai de família bonitão padrão americano, mas não acho que isso comprometeu. A mãe ficou ótima, mas os Kevins foram absolutamente perfeitos! Todos foram ótimos e são parecidos. O menorzinho, naquela cena da bola é muito assustador! O Ezra Miler, na minha opinião, conseguiu dar o tom certo entre cativante e assustador.
Bem, vou parar por aqui porque o comentário já tá gigante, mas só pra terminar, eu também me interessei pelo livro, de cara, pela capa. Muito melhor que a capa original.
Tatiana Michels
04/06/2014 at 18:21Oi Thaís!
Sabe porque eu pensei que a cena foi ‘forte’? Porque há uma onda tão politicamente correta com a maternidade que muuuuita gente deve ter prejulgado o personagem a partir daquilo, ainda mais que é bem no início do filme 🙁
Realmente, a saída popstar de Kevin do ginásio foi muito errada. TUDO o que ele fez foi para não significasse nada – desde a escolha da arma.
Sabe o que eu queria? Um seriado baseado no livro. 10 episódios de uma boa série retrataria de forma bem bacana o livro – eu acho.
A capa é sensacional né? Gostei muito, desde que bati o olho nela 😀
Beijo enorme!
Thaís
05/06/2014 at 17:08Dez episódios seria mesmo um tamanho bem bom, quem sabe um dia…
Jacque
04/06/2014 at 14:03Oi Tati,
Não sei se mais alguém é assim também mas quando eu quero ler um livro que também virou filme, prefiro ver o filme primeiro e ler depois como “complemento”….pq acaba que o livro é sempre mais completo, não tem como né mas alguns roteiristas se superam…conseguem deixar o filme o mais vago possível talvez na tentativa (totalmente errada e, pq não, burra) de desvincular da história do livro…sei lá..rsrssrrssr
E quando gosto muito de um livro e fico sabendo que vai virar filme, procuro demorar bastante (quando eu guento!rs) pra ver, pra “esquecer” bastante dos detalhes do livro….ahahhah
Não vi nem li esse ainda mas fiquei bem tentada e acho que vou começar vendo o filme…quero poder contrapor certinho depois…rsrs
Bjooo.
Tatiana Michels
04/06/2014 at 18:22Oi Jacque!
Normalmente eu também faço isso hahahaha Só não fiz com este livro porque eu não sabia que tinha file – descobri quando já estava na metade do livro :'( Eu prefiro me aprofundar no livro depois, porque sempre, sempre, sempre eu me decepciono quando leio antes hahahaha
Super beijo!
viviane
04/06/2014 at 20:53Adorei seu post! encontrei esse filme no you tube certo dia,comecei a assistir sem dar nada por ele e simplismente me apaixonei pela história.Esse filme ficou cravado na minha cabeça,nem sabia que tinha livro dessa história.Com certeza vou tentar comprar.
Tatiana Michels
04/06/2014 at 20:55Oi Vivi!
Certeza que você vai se apaixonar pelo livro ♥
cinthia
19/06/2014 at 20:11Fiquei curiosa mas vou ver se consigo ver os dois ,pois adoro ver como retratam o livro em filmes indiferentes de serem perfeito ou não ,pois teve aquela minissérie recente com Isis Valverde o canto da sereia assisti logo nos primeiros capítulos identifiquei que era a Emparedada da Rua Nova e modificaram e muito mesmo o livro sem falar que este é um dos meus livros favoritos e o entrevista com o vampiro ? ai Tom Cruise hehe foi quase fiel só uma ou duas partes modificadas,uma delas qdo Tom cruse chora pela morte de sua amada no livro é o irmão que morre tropeçando de uma escada oi ? rsrsrs
Tatiana Michels
24/06/2014 at 15:29Oi Cinthia!
Tenta ler o livro e ver o filme sim, ambos valem a pena – mesmo o filme sendo bem aquém da história, mas mesmo assim é bem impactante e profundo.
Você acredita se eu disser que nunca assisti Entrevista com o vampiro? Tai algo que eu tenho que ver haha
Super beijo!