Não, esse não é mais um post sobre o novo álbum de Madonna e sim um post sobre ela, a Soberana do Pop, THE Madonna.
Bem no finalzinho do ano passado, na ânsia sobre o novo álbum de Madge, após vazamentos de músicas do álbum Rebel Heart, eu fui questionada: “Por que você gosta tanto de Madonna?”. Naquele momento minha resposta foi bem óbvia, mas o assunto ficou na minha cabeça.
Para mim é impossível falar de Madonna sem falar de feminismo.
Eu nasci no início dos anos 80, vivi minha infância nessa década e uma parte na minha pré-adolescência/início da puberdade no início dos anos 90. Por ter nascido menina, em uma sociedade heteronormativa e extremamente machista, cresci com vários ensinamentos de como se deve comportar uma mulher, como deve se vestir e principalmente “se dar ao respeito” (nossa como eu odeio esse negócio de mulher se dar o respeito).
A gente quando criança e menina, é bombardeada com esses preceitos. Menina não pode sentar com as pernas abertas (oras você é criança e nem entende porque sua tia fala isso – porque é sempre uma tia), menina não pode brincar assim ou assado, menina não pode falar alto, menina não pode, menina não pode… Então você entra na puberdade e tem a primeira menstruação (nossa, a sociedade fica em pânico, afinal de contas, você já pode engravidar) e só piora, agora você não é mais menina, você é uma mocinha e tem que “se dar o respeito” e por ai vai.
Tive a sorte de ter pais muito mais cabeça aberta que a maioria das minhas coleguinhas, mas não deixei de sofrer com esse machismo exacerbado da nossa sociedade. Fomos criadas e educadas dentro de um preceito: de que uma mulher deve se dar ao respeito e isso significa manter-se virgem até o casamento ou perder a virgindade com o grande amor da sua vida. Não pode gostar de sexo, gostar de sexo é coisa de mulher da vida (aposto que milhares de garotas já escutaram essa daquela “tia querida”). Mulher não pode fazer sexo casual, mulher não pode sair pra beijar, mulher não pode, mulher não pode, mulher não pode… Fora isso, temos poucas referências de mulheres bem sucedidas, e aí ficam jogando goela abaixo as Princesas da Disney, as primeiras damas, mulheres que se casaram com homens rycos, e têm ainda as princesas de verdade (vide casamento de Kate e William – cafona) como exemplos de mulheres bem sucedidas.
É ai que Madonna faz toda a diferença nesse contexto horroroso que nós mulheres, que já fomos meninas, somos submetidas.
Por quê?
Porque Madonna não fez nada disso que descrevi acima. NADA.
Ela foi, é e será uma mulher que não se dá o respeito, não aceita e nem aceitou essas regras ridículas e impostas a nós mulheres todo momento.
Madonna largou a universidade para se mudar para Nova Iorque, atrás de seu sonho: SER FAMOSA. Antes de realizá-lo, passou por muitos perrengues para se sustentar, fazia milhares de bicos, trabalhou como garçonete, modelo, dançarina, backing vocal e até roubar ela já confessou que fez nessa época, mas o mais importante de tudo foi que ela não desistiu.
Nessa época ela topava quase tudo por uma graninha, como modelo chegou a posar nua por U$ 15,00, fez um soft porn e recebeu a bagatela de U$ 100,00 por isso. Entendo super bem, afinal de contas, ela buscava seu sonho e se virava como podia. Não pediu ajuda de ninguém, mas também “não se deu o respeito”. Claro que os puritanos de plantão a condenam e me condenam por admirá-la tanto, mas é aquilo: Haters gonna hate .
A postura em relação ao sexo foi e é uma característica forte em Madonna, ela nunca se colou na posição de objeto sexual, como algumas de suas antecessoras, até mesmo Marylin Monroe – que foi uma grande inspiração artística de Madge – era muito “objetificada” sexualmente. Agora Madonna não. Madonna sempre se posicionou como SUJEITO sexual e não objeto – existe uma diferença semântica muito grande ai. Enquanto Marylin era desejada, Madonna desejava.
Foi uma das primeiras mulheres de grande expressão na mídia a dizer que gostava de sexo e o praticava bastante. Isso fez dela um ícone dentro do movimento feminista, que ainda naquela época, buscava igualdade de direitos negando o feminino (explico: mulheres para provarem que podiam, que tinham a mesma capacidade de realizar tarefas tipicamente masculinas se masculinizaram) talvez eu seja mal interpretada aqui, realmente não sei se estou sendo clara. Mas quero dizer que Madge foi e é uma feminista feminina e extremamente sensual, que gosta de seduzir e não nega o feminino – e nem por isso se faz de objeto sexual.
Com isso ela também se tornou ícone para a luta LGBT, que é sobre liberdade sexual, não ser julgada pela sua orientação, suas vontades e seus desejos. Ser livre sexualmente de qualquer rótulo, qualquer julgamento. Luta pela liberdade de poder transar com quem você quiser e não ser desmerecida por isso, ou mesmo com quantas pessoas quiser.
“Pobre é o homem cujos prazeres dependem da aprovação de outro”
Que belo recado, não é?!
Madonna, ao longo de sua carreira, protagonizou polêmicas – uma atrás da outra, sempre relacionadas ao sexo e sempre para divulgar algum trabalho. The Material Girl sabe muito bem que sexo vende, e vende muito. Sendo o seu álbum “Erotica”, acompanhado do seu livro Sex em que ela relata suas fantasias sexuais (é gente, mulheres também têm fantasias sexuais), mais erotizado de todos. Diria que com ele, Madge chegou ao auge da ousadia e provocação.
Nada disso a impediu de ser uma boa mãe. A sociedade prega que uma mulher “rodada” não tem condições de educar crianças, e é ai que Madonna mais uma vez da um “cala boca” para essa sociedade careta e misógina. Ela tem 4 filhos, Lourdes Maria Ciccone Leon, Rocco Ritchie, Mercy James, David Banda Mwale Ciccone Ritchie, e apesar da agenda mega atribulada, ela procura manter a família sempre unida. Levando-os – na medida do possível – em suas turnês pelo mundo. Em uma entrevista recente, disse viver para os filhos e que o dia que Lola saiu de casa para frequentar a universidade foi o pior de sua vida.
Gosto de fazer um paralelo entre Madonna e Whitney Houston. Ambas estouraram no começo da década de 80. Whitney era a cantora talentosa que saiu de dentro das igrejas e era vista como boa moça, uma garota de família, que se dava ao respeito. Enquanto Madonna era a profana devassa, garota rodada que não tinha tanto talento e gostava de chocar.
Whitney Houstou morreu em fevereiro de 2012, foi encontrada morta numa banheira de um hotel em Los Angeles, havia consumido álcool e cocaína, deixou uma filha, Bobbi Kristina, de 18 anos, fruto de um casamento conturbado, onde ela acabou se viciando em crack e apanhando do então marido.
Bobbi Kristina foi encontrada desacordada em uma banheira de sua mansão no final de janeiro deste ano, ela esta em coma induzida sem previsão de alta.
Madonna, com 56 anos, continua na ativa, fabricando hits, provocando, sensualizando. Apesar de muitas polêmicas ao longo da carreira, Madonna nunca se envolveu em grandes escândalos na sua vida pessoal. É uma profissional exemplar, mãe, tem uma família unida, é muito disciplinada e esbanja disposição.
Gosto de fazer esse paralelo para exemplificar que rótulos não dizem nada.
Hoje Madonna encabeça uma nova luta, que ela define contra o ageism (sem tradução)
Quando você atinge uma certa idade, não lhe é permitido ser aventureira, não lhe é permitido ser sensual. Muitas pessoas dizem: “Isto é tão patético, espero que ela não esteja fazendo isso daqui a 10 anos”. Eu digo “Quem se importa? E se eu estiver? Existe alguma regra? Você deve apenas morrer quando você tem 40 anos?”
Isso ela já falava há uns 15 anos atrás… Imagina agora!
A Radio 1 londrina, que pertence ao grupo BBC, baniu o novo single de Madonna com a o argumento de que Madonna com 56 anos é velha e irrelevante (aff, beghy), maior polêmica e claro que teve muitas reclamações, maior bafafá no Twitter, a matéria saiu no Daily Mail.
Não vou entrar nessa questão, para BBC só digo que o novo single de Madge esta em primeiro lugar no top Dance/Club Play da Billboard, é o seu 44° single a chegar ao topo.
Sei que post está enorme, poderia ficar aqui mais mil horas escrevendo sobre essa mulher que é com toda certeza minha maior inspiração, inspiração como profissional, inspiração como mulher. É reconfortante, para mim, aos 30 e poucos anos, olhar com tanta admiração para uma mulher com 50 e tantos anos ter essa garra, essa vontade, essa disposição de continuar dando tapa na cara dessa sociedade heteronormativa, machista, misógina e careta. E é por tudo isso que eu gosto tanto de Madonna, que eu a admiro tanto.
Termino com uma frase traduzida, que foi postada por ela mesma na sua conta do Instagram (siga @madonna) no final do ano passado:
“Há aqueles que querem me calar, mas eles não podem! Nós ainda vivemos em um mundo que discrimina as mulheres. São pessoas abomináveis. Querem criar rixas que não existem entre mulheres fortes. Eu não desejo e nunca desejarei mal a qualquer outra artista feminina. O mundo é grande o suficiente para todos nós! Vou lutar por meus direitos como artista, ser humano e como mulher até o fim dos meus dias! Porque eu sou um coração rebelde, me inspiro em outros grandes artistas e não vou pedir desculpas ou defender meu trabalho inédito, inacabado e ROUBADO. Se você não gosta de quem eu sou ou o que eu tenho a dizer, por que então está lendo isso? #unapologeticbitch. PS: Não poste palavras de ódio sobre outras pessoas na minha página. Se você é meu fã, não fale coisas ruins!”
E deixo aqui uma matéria muito boa que foi publicada recentemente sobre ela.
3 Comments
Nathalia Santos
07/04/2015 at 19:17Amei a matéria!!
Ela é minha inspiração também e se eu for 1% do que ela é foi ser muito feliz!
Ela me inspirou e inspira a cada dia seguir meus sonhos!
Um deles é dançar, comecei a mais ou menos 2 anos e tenho 26 anos! E se pudesse largaria tudo pra ir atras desse sonho! Mas um passo de cada vez!
Ela é unica e insubstituível!
Parabéns Pela matéria!!
Natylla Mota
08/04/2015 at 23:39SENSACIONAL. Assino embaixo!
Madonna tem um legado muito inspirador, em todos os sentidos.
Jamais perderá sua majestade.
Beleza Madura: Porque a beleza não acaba depois dos 30
19/05/2015 at 10:05[…] justamente por isso que não vou falar de Madonna hoje, há um post sobre ela aqui e, mesmo a amando incondicionalmente, não acho que ela se encaixe no perfil de mulheres mais […]